Achei! Contra 'olho grande', Soares busca recomeço no América-RN

Achei! Contra 'olho grande', Soares
busca recomeço no América-RN

Perseguido por lesões, ex-atacante de Figueirense, Fluminense, Cruzeiro e
Grêmio aposta as fichas na volta à Série A e ainda sonha jogar no exterior

Por Thiago de Lima Rio de Janeiro

 
 
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soares américa de natal (Foto: Divulgação / Site Oficial América-RN)Soares reencontra os gols no América-RN 
(Foto: Divulgação / Site Oficial América-RN)

Em 2006, foram duas semanas. Já em 2007, pouco mais de dois meses. Mais 30 dias em 2008 e cerca de oito meses em 2009. Somando-se outros 30 dias referentes à atual temporada, ao todo dá aproximadamente um ano. Esse é o tempo que o atacante Soares, ex-Figueirense, Fluminense, Grêmio e Cruzeiro, precisou ficar no estaleiro nas últimas temporadas. Perseguido por lesões, o jogador desembarcou em janeiro no América-RN após passagens apagadas por Vitória e Ponte Preta. Aos 27 anos, ele busca na equipe potiguar um recomeço na carreira, além de tentar se livrar do “olho grande”.

Foi uma sequência de azares. Começou em 2006, com uma torção no tornozelo esquerdo pelo Figueirense; já em 2007, duas lesões seguidas na virilha pelo Fluminense; no Grêmio, em 2008, torção no joelho esquerdo, e em 2009, três contusões pelo Cruzeiro: fratura no tornozelo direito, duas vezes, e mão direita quebrada. Este ano, nova torção no joelho da perna esquerda.

- Tem gente que, em vez de torcer pelo companheiro, torce contra mesmo. Fica com mau-olhado, de olho grande para que você se machuque. Eu acredito que a palavra tem poder. Se você deseja o mal para uma pessoa, às vezes acontece. Tem que ter uma boa proteção espiritual. Quando eu estava bem, deslanchando, a coisa não fluía. Muita gente queria que eu ficasse fora. Mas nada acontece por acaso. Sei que coisas boas ainda virão para mim - profetizou.

Ano Clube Jogos Gols Média
2006 Figueirense 46 18 0,39
2007 Fluminense 40 6 0,15
2008 Grêmio 26 8 0,30
2009 Cruzeiro 33 6 0,18
2010 Vitória 7 1 0,14
2011 Ponte Preta 9 0 0
2012 América-RN 17 9 0,52

Com 1,75m e 72kg, o atacante conta que já precisou fazer um trabalho para fortalecer os músculos em 2008, quando esteve no Grêmio e disputou o Campeonato Gaúcho. No mesmo ano, o jogador foi vice-campeão brasileiro com a equipe tricolor, mas geralmente na reserva. Soares, no entanto, não culpa o porte físico por nenhuma das contusões que sofreu.

- Quando comecei no Figueirense, ninguém me conhecia, fazia minhas jogadas e não me lesionava. Depois, o bicho começou a pegar. Como era magrinho, qualquer pancada machucava. Fiz um trabalho intenso de três meses, peguei mais massa muscular e aprendi a me defender. Mas isso é complicado de analisar. O Neymar, por exemplo, leva muita pancada, mas raramente se machuca - comparou, citando o camisa 11 da Seleção Brasileira, que tem 1.74m e 65kg.

 

Apesar de lamentar o tempo que passou no departamento médico dos clubes recentemente, Soares não se considera um profissional com pouca sorte no futebol. Natural de Manaus, no Amazonas, e criado pelos avós, ele encontra uma resposta otimista baseada nos feitos alcançados na carreira, que começou ao sair sozinho de casa e trocar sua cidade natal por Londrina, no Paraná, aos 16 anos.

- Sou um vencedor. Sair de onde eu saí, um lugar sem tradição no futebol, e chegar aonde cheguei... Me considero um cara de muita sorte. Sempre conquistei alguma coisa por onde passei. Fui campeão nos juniores do Londrina, ganhei o Estadual por Figueirense, Cruzeiro e América-RN, a Copa do Brasil pelo Fluminense e participei da campanha de acesso à Série A com a Ponte Preta. Só não fui campeão no Grêmio e no Vitória - lembrou o jogador, que disse guardar boas recordações de praticamente todos os times que defendeu, mas revelou um carinho maior pelo Figueirense.

- Foi o clube que me projetou no cenário nacional, por onde ganhei a bola de prata no Brasileiro. Lá, tive minhas maiores alegrias - confessou.

Cruzeiro, para o bem e para o mal: única Libertadores e a pior lesão

Acostumado a contornar os problemas físicos, Soares classificou a fratura no tornozelo direito como o pior momento em sua trajetória no futebol, justamente quando disputou sua primeira e única Taça Libertadores da América. A gravidade da lesão se dá em duas etapas: sua origem foi no dia 7 de maio de 2009, na vitória do Cruzeiro por 2 a 1 sobre o Universidad de Chile, fora de casa, pelas oitavas de final do torneio sul-americano. Ao chutar uma bola da entrada da área, ele recebeu um carrinho que acabou quebrando seu pé (veja o lance aos 1:26 do vídeo ao lado).

- O zagueiro foi tirar a bola, mas acabou acertando meu pé de apoio. Nunca tinha fraturado nada, e isso me desanimou bastante. É uma lesão mais dolorida, o tempo de recuperação é maior, deixa de molho mesmo. E aconteceu em um momento totalmente errado, era titular do time, vinha jogando todos os jogos, estava na Libertadores... Mas tive o apoio da família e jamais pensei em desistir - lembrou.

"Nunca tinha fraturado nada, e isso me desanimou bastante. É uma lesão mais dolorida, deixa de molho mesmo. E aconteceu em um momento totalmente errado"

Mas foi a segunda contusão no mesmo local, no dia 14 de novembro daquele ano, no empate por 1 a 1 com o Grêmio, no Mineirão, pela 35ª rodada do Brasileirão, que chateou o atacante. Para ele, o departamento médico do clube errou ao precipitar seu retorno aos gramados.

- Dessa vez aconteceu num lance sozinho, quando fui girar o corpo, mas justamente porque não estava recuperado. Até acabei brigando com os médicos, pois achei que eles me liberaram antes da hora. Na primeira fratura, não operei, só coloquei o gesso. Queria voltar a jogar só com 100% de certeza. Eram quatro, cinco médicos no clube, e eles conversavam bastante comigo. No Raio-X, vi que ainda tinha um pedacinho do osso que ainda não estava calcificado totalmente. Mas como não sentia mais dor, os médicos se precipitaram. Voltei e acabei fraturando de novo. Aí, tive que operar mesmo e colocar parafuso. Mas isso já ficou para trás - explicou.

Entre a primeira e a segunda fratura no tornozelo, ainda houve tempo para quebrar a mão, em uma lesão que aconteceu no dia 18 de outubro, no Mineirão, na vitória por 1 a 0 sobre o Botafogo. Numa disputa de bola no meio de campo, Soares levou a pior na dividida (confira no vídeo ao lado).

- Levei uma pancada na nuca, caí desacordado em cima do braço e acabei quebrando a mão. No Cruzeiro, foram praticamente oito meses parado com lesões seguidas. Ali foi um azar danado, mas acontece. Infelizmente aconteceu comigo - lamentou o atacante, que garantiu não guardar rancor de nenhum marcador em sua carreira.

- Eu acabo esquecendo, procuro sempre olhar para frente. Não adianta a gente ficar reclamando do passado.

Retomada e sonhos: América-RN e os objetivos pós e para a Série B

Nesta temporada, juntando Campeonato Potiguar, Copa do Brasil e Série B, Soares fez 17 jogos e nove gols, tendo uma média de 0,52 - aproximadamente um gol a cada duas partidas. Desempenho superior até ao de 2006, quando foi uma das revelações do Brasileirão, balançando a rede 13 vezes em 34 rodadas, com média de 0,38. Mas desde que torceu o joelho, no dia 18 de março, o atacante ficou fora das finais do Estadual, só entrou em três partidas e ainda tenta recuperar o posto de titular da equipe. Contra o Bragantino, na quinta rodada, substituiu Márcio Passos na metade do segundo tempo e garantiu a vitória por 2 a 1. Foi o primeiro gol após sua última lesão (veja no vídeo acima).

- Foi um lance bobo. Joguei na frente, o cara me deu um carrinho, e meu joelho dobrou muito. Graças a Deus não precisei operar, mas prejudicou um pouco, porque estava indo bem, fazendo gols, e agora perdi um pouco de espaço. Entendo a posição do técnico (Roberto Fernandes) em começar a Série B com o mesmo time que venceu a decisão do Estadual. Estou torcendo pelos meus companheiros. Mas quero voltar a jogar bem para agarrar a oportunidade quando ela aparecer.
 

soares cruzeiro (Foto: Arquivo Pessoal)Soares nos tempos de Cruzeiro: lesões atrapalham
jogador (Foto: Arquivo Pessoal)

Após jogar só 16 partidas nos últimos dois anos (sete pelo Vitória no Brasileirão de 2010 e nove pela Ponte Preta na Série B de 2011), Soares vislumbra uma fase melhor nesta temporada e se anima com a largada do América-RN. Após seis rodadas, o time potiguar soma 13 pontos e luta pelas primeiras posições da tabela.

- É diferente começar do início do ano. Aqui pude chegar para fazer a pré-temporada com o grupo, coisa que não consegui na Ponte Preta e no Vitória, e acabei jogando pouco por lá. Agora, vai ser a primeira Série B que vou ter uma sequência boa. Nosso time é competitivo, foi bastante criticado no Estadual, mas ganhamos o título, e nosso elenco foi reforçado. Estamos começando com o pé direito. Nosso objetivo é subir para a Série A, mas se continuarmos nesse ritmo, temos chances de alcançar algo maior no final - sonhou o jogador.

"Se não fossem as lesões, acredito que hoje estaria fora do Brasil. Minha hora ainda vai chegar"

Mas os sonhos do atacante não param por aí. Ainda com muitos objetivos em mente, ele revela o desejo de um dia seguir os passos do meia Cícero (atualmente no São Paulo) e do volante Henrique (atleta do Santos), amigos que começaram juntos no Figueirense e que jogaram por um tempo fora do país.

- Tenho o sonho de chegar à Seleção, voltar a jogar por um time na Série A, atuar fora do país... Se não fossem as lesões, acredito que hoje estaria fora do Brasil. Em 2007, tive uma oportunidade de ir para o Júbilo Iwata (Japão), que era treinado pelo Adílson Batista. Só que, na época, o Fluminense cobriu a proposta, e para mim também foi bom. Mas minha hora ainda vai chegar e, quando acontecer, pretendo fazer meu pezinho de meia e não voltar tão cedo - avisou.

Quase irmãos: Soares e Henrique dividem trajetória, idade e até aniversário

soares atacante (Foto: Arquivo Pessoal)Soares com Henrique: parceria de longa data
(Foto: Arquivo Pessoal)

Nascidos em 16 de maio de 1985, Soares e Henrique são crias das categorias de base do Londrina, subiram ao mesmo tempo para o profissional e moraram juntos durante quatro anos no Paraná. Amigos de longa data, os dois também jogaram pelo mesmo time no Figueirense e no Cruzeiro. Ao relembrar os velhos tempos, o atacante espera no futuro refazer a parceria com o volante do Santos, natural de Londrina, com quem mantém contato pela internet.

- Eu e o Henrique fomos chamados juntos para o Figueirense, começamos no time B, mas logo subimos para a equipe principal. Considero-o como um irmão, e ainda fazemos aniversário na mesma data. Tenho vontade de um dia voltar a jogar com ele, com o Cícero... – disse Soares, que começou a carreira como volante.

- Era um segundo volante na época, mais de atacar do que de marcar. No Londrina, primeiro virei meia. Depois de um ano que o treinador falou que queria testar minha velocidade e me colocou como atacante pelas pontas. Deu certo. Se já fazia gols como meia, passei a fazer mais como atacante - comemorou.

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