Gary Lineker foi um dos maiores atacantes da história do English Team. Foi, inclusive, artilheiro da Copa do Mundo de 1986. Bagagem suficiente para que um cidadão de Porto Alegre lhe prestasse uma homenagem no dia 27/03/1987. Por um erro de grafia, nascia Liniker Mendonça da Silva Marinho, que, por obra do destino, também se tornaria jogador. Revelado pelo Internacional, onde ficou por sete anos, o volante de 24 anos é uma das principais atrações do Cerâmica, time ainda pouco conhecido de Gravataí, no interior do Rio Grande do Sul, e que disputa a Série D do Campeonato Brasileiro de 2011.
- Eu nasci em 1987. Em 1986 o meu pai viu o Lineker, da Inglaterra, na Copa do Mundo, e gostou muito. Aí resolveu colocar o nome em mim. Só tem um errinho aí no meio (a letra "i"), mas é legal (risos) - brincou o jogador.
Liniker chegou ao Cerâmica em 2008 e conquistou a Recopa Sul-Brasileira em 2010, título mais importante da história do clube, fundado em 1950 por funcionários da antiga Cerâmica Gravataí, mas que só passou a ser profissional em 2007. O time entrou como vice-campeão da Copa Federação Gaúcha de Futebol, em que perdeu a final para os juniores do Internacional. Como o Colorado recusou a participação na Recopa, a vaga ficou com o Cerâmica. O torneio ainda contou com as participações de Paulista (campeão da Copa Paulista 2010), Roma Apucarana (campeão da Segunda Divisão do Paranaense em 2010) e Brusque (campeão da Copa Santa Catarina de 2010). O feito repetiu o ano de 2008, quando o time chegou a eliminar os juniores de Grêmio e Inter na Copa FGF e perdeu a final para o Pelotas, campanha que lhe rendeu uma vaga na Copa do Brasil de 2010, onde acabou eliminado na primeira fase pelo Paraná.
Em 2011, o segundo lugar na Segunda Divisão do Campeonato Gaúcho deu ao Cerâmica o direito de participar da Série D do Campeonato Brasileiro e, pela primeira vez em sua história, da Primeira Divisão estadual, em 2012. Como prêmio, a principal patrocinadora do clube, uma fabricante de veículos americana, deu de presente dez carros aos atletas que tiveram mais de 80% de participação durante a campanha do vice-campeonato. Os que obtiveram um percentual menor que 80% não levaram o carro, mas receberam uma compensação financeira.
Responsável pela profissionalização do Cerâmica, clube tricolor em preto, verde e amarelo, o gerente de futebol Paulo César Magalhães, ex-lateral-esquerdo titular na conquista do Mundial Interclubes de 1983, principal título da história do Grêmio, onde ficou 17 anos, acredita que o clube de Gravataí pode se tornar a terceira força do estado, atrás apenas da dupla Gre-Nal:
- É difícil, até porque o Cerâmica ainda é um clube que depende muito do seu presidente em relação às despesas. Mas nós podemos, sim. Se não chegarmos a ser terceira força, podemos ficar bem perto disso, uma quarta força. Vai acontecer quando angariarmos mais fundos. Vamos aproveitar a força da nossa cidade, que tem 260 mil habitantes.
O presidente Décio Becker, dono de uma metalúrgica herdada do pai e sediada na própria Gravataí, arca com 90% das despesas do clube. Ele espera retorno financeiro para daqui a alguns anos e promete reforços para a disputa do Gauchão:
- A gente se propôs a fazer um trabalho, que foi tomando rumo. Hoje não tem mais como parar. O retorno que temos é em transparência, em conquistas. Mas em dois ou três anos esperamos um retorno financeiro também. O crescimento se deve ao planejamento estratégico que se fez, à gestão empresarial que se colocou como modelo. Os nossos jogadores não têm prêmio por vitória ou empate, mas por objetivos. Para a Série A do Gauchão do ano que vem precisamos ter um grupo mais forte, com reforços, e com certeza não vou medir esforços.
A Série D do Brasileirão, por sua vez, já terminou para o Cerâmica. Com apenas cinco pontos em oito jogos, o time é o quinto e último colocado do Grupo A7, composto ainda por Cene-MS, Oeste-SP, Mirassol-SP e Operário-PR, e não tem mais chances de ir às oitavas de final. Mas nada que desanime a diretoria e os jogadores.
Sobrinho do ex-lateral-direito Luís Carlos Winck, que passou por Internacional, Vasco, Flamengo, Corinthians, Grêmio, Atlético-MG e Botafogo, e filho do ex-meia Sérgio Winck, que também jogou no Grêmio, o volante Lucas Winck marcou o primeiro gol do Cerâmica na campanha da Série B do Gauchão, o do empate por 1 a 1 com o Brasil de Farroupilha, que abriu caminho para a vaga na Série D. Lesionado, ele, que ainda tem um irmão (Cláudio Winck) na seleção brasileira sub-17, mostrou-se bastante confiante em relação ao futuro da equipe e disse que espera ter o contrato renovado:
- Aqui eu cheguei em janeiro por indicação do diretor (PC Magalhães), que me viu jogando e gostou. Meu contrato termina em dezembro, e espero renovar para poder disputar o Gauchão no ano que vem. Estamos todos na expectativa.
Além de Winck, e de Liniker, o elenco conta ainda com o meia Belo, cujo nome é Bruno Alex, mas a semelhança com o cantor lhe rendeu o apelido, o os atacantes Zeferino, que tem passagens por Goiás e Paraná e foi a principal contratação para esta temporada, e Cidinho, maior artilheiro da história do clube e homônimo do meia do Botafogo, mas cujo nome verdadeiro é Eliemar Lopes Lima. O técnico Lico Freitas elogia o grupo, mas concentra os resultados em um projeto de prazo um pouco mais longo:
- Se eu já tivesse falado agora em acesso (à Série C) teria sido otimista demais. A longo prazo é que podemos pensar grande, porque a estrutura é muito boa, o projeto aqui é muito bom.
Na esperança de um crescimento ainda maior, a diretoria do Cerâmica investiu na reforma do Estádio Antônio Vieira Ramos, o Vieirão, que passará a ter capacidade para cerca de 10 mil pessoas. Além disso, um centro de treinamento está quase pronto, dentro da metalúrgica do presidente Décio Becker, com dois campos de grama. Com uma boa estrutura e diante de tanto investimento, não será surpresa se o Cerâmica passar a ganhar mais destaque no cenário nacional. Seja a curto, médio ou longo prazo.