A luta de Carlos Eduardo Rocha, o "Tá Danado", começou bem antes dele entrar pela primeira vez em um octógono. Ex-menino de rua e orfão, o paraibano enfrentou uma infância pobre até encontrar sua volta por cima no jiu-jítsu e, mais precisamente na Alemanha, descobrir uma carreira no MMA. Contratado pelo Ultimate, onde estreou com vitória, o atleta se tornou referência no país europeu, onde estampa produtos e dá aulas em duas academias. Hoje, aos 30 anos, sua meta é realizar um sonho: conquistar o cinturão dos meio-médios do UFC (assista ao vídeo).
- O professor sempre olhava para mim e dizia "Você tá danado, se aquieta garoto, tá sempre danado. Quer saber de uma coisa, vou te colocar como Tá Danado" - explica Carlos Eduardo sobre o apelido.
Antes de se tornar uma referência no MMA dentro da Alemanha, "Tá Danado", que perdeu os pais quando pequeno, chegou a morar nas ruas e conviveu de perto com o mundo das drogas. Aos 7 anos de idade, após perder também sua avó materna, foi obrigado a perambular por cidades como Recife, João Pessoa, Fortaleza e acabou acolhido por um projeto social, onde aprendeu e se aprimorou no jiu-jítsu. Aos 26 anos, após se destacar na modalidade, decidiu ir à Alemanha em busca de uma vida melhor.
Carlos Eduardo Rocha posa em foto para o UFC- Eu vim para cá para realizar um sonho de viver uma vida mais tranquila, mais social. Quando cheguei aqui eu percebi que não era tão fácil. O começo de carreira foi duro - diz o lutador, que hoje mora em um bairro pacato de Hamburgo.
O sucesso do lutador na Alemanha veio a partir de seu empenho no MMA. Após investir na modalidade, ainda pouco difundida no país, ele acabou tendo uma chance de lutar no UFC. No Ultimate, estreou na edição 122, em 2010, quando abriu o card preliminar do evento e venceu o americano Kris MacCray com uma chave de perna aos 2m21s do primeiro round.
- Eu nunca ia imaginar que chegaria na Alemanha e me tornaria um lutador do UFC. Eu só pensava em ser alguém na vida. Estudei, vivi na rua, lutei para ganhar meu próprio dinheiro e para não viver das drogas - relembra.
O destaque maior de "Tá Danado" veio em sua segunda luta, no UFC 126, em Las Vegas, marcado pela "luta do século" entre os brasileiros Anderson Silva e Vitor Belfort (Silva venceu o compatriota e manteve o cinturão dos pesos-médios). Mesmo perdendo por pontos para Jake Ellenberg, o paraibano - único brasileiro fora do evento principal da noite - realizou uma boa luta.
- Na luta eu vi que o Jack não era um adversário terrível. Foi ali que eu vi uma luz de oportunidade de ser campeão. Hoje sei que um dia vou chegar lá - diz o atleta.
Fisioterapia e patrocínios
Após o combate contra Ellenberg, "Tá Danado" descobriu lesões nos dois cotovelos e teve de passar por cirurgias. Até hoje, realiza fisioterapia para retomar a mobilidade dos braços, como descreve seu fisioterapeuta, Robert Schultz.
- Meu principal trabalho é estender os cotovelos dele. Depois da operação ele não podia estender os dois cotovelos. É muito importante conseguir alcance - afirma o especialista.
O lutador deve estar pronto para lutar em fevereiro de 2012. Mesmo longe do octógono, ele continua a dar aulas, em alemão, em duas academias, uma delas cujo dono é o ex-campeão mundial de muay thai Brian Al Amim. O proprietário diz que levar um atleta do UFC para ensinar MMA foi uma jogada de mestre para seu negócio.
- É uma das melhores coisas que podemos ter. É muito importante para nossos alunos poder olhar para o técnico e ver um lutador de uma das melhores ligas do mundo, o UFC - diz Al Amin.
Na Alemanha, o boxe ainda é mais difundido do que o MMA. Apesar disso, "Tá Danado" conseguiu se tornar uma referência da modalidade no país, como comprova um de seus alunos, Jan Blume.
- É muito bom porque todo mundo no nosso time pode aprender muito dele. Todas as técnicas que ele treina e pratica conosco são novas e muito efetivas, pois ele mesmo luta com essas técnicas contra campeões de sua divisão. Então, estamos motivados para treinar com ele e aprender essas técnicas - afirma o pupilo.
Além das aulas, "Tá Danado" conta com outras fontes de renda. Entre os patrocínios está uma marca de suplementos alimentares. Um patrocinador, sem se identificar, diz ver o atleta como um exemplo de vida.
- Carlos é um lutador maravilhoso, e nós precisamos dessa ajuda para fazer alguns produtos usados por lutadores em seu trabalho. É muito importante que eles cresçam, se tornem melhores e estejam melhores na próxima luta - diz.
Outro patrocinador do paraibana é Willy Steinky, dono da maior loja de produtos de MMA da Alemanha e criador do maior site sobre o assunto no país. Ele vê no lutador um exemplo de vida.
- "Tá Danado" veio do Brasil sem muita coisa e conseguiu, em cinco anos aqui, falar a língua perfeito, treinar todo dia e ir para o UFC. Essa é a personalidade dele. Ele é brasileiro, mas para os alemães ele é alemão - afirma.
Brasil e cinturão do UFC
"Tá Danado" afirma sentir saudades do Brasil, mas revela que não se vê vivendo fora da Alemanha.
- Fica aquela coisa, "Vou ou não vou?". Tem a questão da dificuldade do nosso país. Será que vai ser mais fácil, ou mais difícil? O desejo é grande, mas tem muita coisa aqui que me dá tranquilidade para ficar - conta o lutador.
Fixado na Alemanha, o atleta sonha enfrentar o campeão do UFC de sua divisão, seja ele ou não o canadense George Saint-Pierre, atual detentor do cinturão dos meio-médios.
- Não penso, eu sonho com o cinturão quando eu deito na cama. Me vejo lutando com o Saint-Pierre, ou seja lá quem tiver o título. Espero que Deus me dê essa oportunidade para conseguir o que eu quero - aponta.
"Tá Danado" vai passar a treinar na academia Black House, nos EUA, a partir de janeiro, e será assessora pelo mesmo assessor de Anderson Silva, José Aldo Júnior, Lyoto Machida e Rodrigo Minotauro.